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Saturday, June 11, 2011

Curso de Turbante e Princípios da Arte

      
            Durante o  último festival de Gaura Purnima em Mayapur tive a oportunidade de  juntamente com minha mãe, Srimati devi dasi, participar de um curso de turbantes ministrado por Kurma Caitanya prabhu.  Apesar de estarmos acostumadas a fazer turbantes para deidades, vesti-las e cuidar da decoração floral em diferentes templos a pelo menos 15 anos, resolvemos participar do curso motivadas pela curiosidade em aprender como transmitir às pessoas  um tipo de conhecimento que para nós era considerado intuitivo e abstrato.


           Por diversas vezes, devotas pediram que ensinassemos o nosso trabalho e minha mãe já até chegou a apresentar um workshop de arranjos florais no último  Retiro Vaisnavi em Vrajabhumi.  No entanto, apesar de olharmos para determinada decoração e sabermos que ela estava harmoniosa, tinha movimento, ou seus elementos estavam proporcionais, careciamos de ferramentas para treinar outras pessoas em como desenvolver esse senso estético.
          
            E elas vieram através de Kurma Caitanya prabhu! Graças a esse curso, além de termos aprimorado nosso seva, pudemos desenvolver a habilidade de compartilhá-lo com outras devotas e o mais importante, realizar que nosso conhecimento nunca deve ser considerado suficiente e devemos sempre buscar aprimorar nosso serviço a Krishna. E as ferramentas para isso são infindáveis!  Vamos conhecê-las então:

       Quando olhamos para  o turbante de Krishna podemos reparar primeiramente nos elementos de arte,  sendo eles:



Geometria

  ●               -  Ponto: é o elemento mais simples de arte. É adimensional.



      - Linha: é uma marca contínua feita numa superfície por um 

      ponto se  movendo. É unidimensional.


   - Contorno: é uma área fechada, definida e delimitada por outros  elementos de arte. É bidimensional.


- Forma: é um objeto tridimensional ou algo em uma obra de arte bidimensional que parece ter três dimensões.



Enchimento

- Cor
- Textura
- Brilho

Espaço  

- É a distância entre dois elementos.

Vamos entender na prática o que esses conceitos representam:



      No que diz respeito à geometria, podemos notar mukuts (setas vermelhas) representando linhas que convergem e se unem em um ponto: a flor branca ( seta verde). A partir daí as linhas continuam pelo colar de contas vermelhas e douradas (seta azul), conduzindo seu olhar para o lado esquerdo de Krishna onde encontramos Srimati Radharani!  Veja bem, o objetivo desse turbante é levar o seu olhar para a amada consorte de Krishna. Os elementos que proporcionam isso você verá mais para frente no tópico MOVIMENTO. 


      Os contornos são representados aqui pelos mukuts laterais (seta amarela) além dos próprios mukuts que formam as linhas. Podemos identificar também os elementos de enchimento como cor, brilho e textura e também o espaço (ex. entre as contas/seta azul e o mukut/ seta amarela há espaço e entre o próprio arranjo de mukuts principal e o da esquerda também). Vale ressaltar que é muito importante deixar esses espaços estratégicos para dar descanço aos olhos e o turbante não parecer um emaranhado de coisas.



 Princípios da Arte – como organizamos os elementos de arte. São eles:


1.      EQUILÍBRIO – A forma como os elementos são organizados para criar uma sensação de estabilidade. Significa manter o foco no centro. O equilíbrio pode ser simétrico ou assimétrico.


 - Simetria: as partes de uma imagem são organizadas de modo que um lado espelhe o outro. 



Na foto de Sri Gadadhara podemos ver o estilo de turbante simétrico:



           - Assimetria: quando um lado de uma composição não reflete o desenho do outro lado. Para manter o equilíbrio no estilo assimétrico, aproxima-se o elemento de maior tamanho para o centro, de forma que fique mais fácil balanceá-lo com elementos menores do outro lado, pois não queremos que a deidade fique parecendo o Mickey Mouse! ( E esse tipo de turbante até existe,  você pode ver sacerdotes usando-os durante a procissão de elefantes, mas não é o efeito que queremos criar aqui!)


O estilo do turbante de Sri Madhava é assimétrico:





      Uma observação importante é que o turbante seja equilibrado de modo que a atenção se volte para o que está no centro dele: o rosto da deidade. Uma maneira de fazer isso é usar elementos de ÊNFASE (que você verá mais adiante) formando a figura de um triângulo, de forma que a atenção se volte para seu centro.




     
     Temos acima um exemplo disso com os três cravos amarelos criando um efeito triangular onde o foco ( centro) passa a ser o rosto de Gadadhara prabhu. Nesse caso, ao invés das flores iguais você poderia usar elementos diferentes de destaque para conseguir um efeito mais interessante e menos óbvio como você poderá notar na próxima foto.




      No turbante de Nityananda temos o mesmo efeito triangular, onde os vértices são formados pelo arranjo de mukuts no centro da cabeça e pelos penduricalhos florais nas duas laterias do rosto.



2.       PROPORÇÃO – é a relação comparativa de um lado para o outro, no que diz respeito a tamanho quantidade ou grau.  O turbante não deve ser maior que o tamanho do rosto da deidade, pois a idéia é não distrair os olhos com o que é grande demais.




    
3.       MOVIMENTO – nossos olhos parecem se mover junto com as linhas.


        
        Linhas retas criam maior tensão.


     Linhas curvas são mais alegres.
              Quando as linhas convergem para um ponto isto é mais dinâmico.




       Quando as linhas são paralelas isso é menos dinâmico.




        No exemplo abaixo podemos ver movimento ( linhas curvas) e dinamismo (convergindo para um ponto) que os colares de pérolas dão ao turbante levando seus olhos a percorrer sobre eles.

    


         Além de colares de contas, você pode usar flores, tecidos de diferentes cores e mukuts  para criar movimento. Abaixo o movimento se dá através da linha de jasmins branco-amarelados:




Movimento formado pela fileira de mukuts partindo do arranjo central do 
turbante de Sri Gadadhara e Sri Nityananda .




Aqui as linhas são criadas utilizando a barra do próprio tecido do turbante. 




 Para dar maior sensação de movimento é só adicionar mais linhas. Isso pode ser feito utilizando faixas de diferentes cores de tecido como na primeira foto abaixo ou caprichando nas pregas como na segunda:






Obs.: Você pode criar linhas usando ao mesmo tempo tecidos ( podem ser intercalados criando RITMO conforme explicado no proximo tópico), cordões, mukuts e flores como no exemplo abaixo:





 RÍTMO  –  Esta relacionado com a repetição regular de elementos para produzir visual e sensação de movimento. Você consegue fazer uma previsão do elemento seguinte.




Você pode obter rítmo:

    




            Combinado com movimento.



       À esquerda e inferiormente vemos um entrelaçado de tecido vermelho e amarelo, criando um ritmo de variação das duas cores, ao mesmo tempo que esse elemento integra as linhas do turbante, juntamente com as pérolas e as faixas de tecido abaixo delas.

                                                                                                                           


          Com diferentes tamanhos



            Aqui vemos ritmo com diferentes tamanhos criado pela sequência de mukuts ( ponta da seta) progredindo desde o maior no topo da cabeça  até o menor ao lado da flauta.
                           
         
           


          Disperso  ( sensação de que algo está caindo).

   



     Acima temos o ritmo disperso criado pelas pérolas na região central do turbante. Esse efeito também poderia ser obtido utilizando flores de diferentes tamanhos se espalhando turbante abaixo pelos cabelos da deidade, como aqui:




Obs.: Para obter rítmo os elementos não precisam ter o mesmo tamanho ou formato.



5.      ÊNFASE – é quando um elemento se destaca. Você pode obter ênfase utilizando cor, brilho, tamanho, etc.




C         Aqui vemos que o elemento principal (aquele que está em maior evidência) - o arranjo de mukuts central, se destaca tanto pelo tamanho quanto pelo brilho. Já o elemento secundário (o segundo em maior evidência) - o arranjo de mukuts da direita, se destaca pelo seu tamanho. Você poderia conseguir ênfase utilizando elementos ( leques, flores, mukuts etc) de cores vibrantes.

 CONTRASTE - uma grande diferença entre duas coisas para criar interesse e tensão. É muito comum utilizar contraste de cores, mas também pode-se utilizar contraste de texturas 
(ex. cetim x chifon), de tamanhos etc. 



6.       UNIDADE –  quando todos os elementos e princípios são conectados, trabalham juntos para criar uma imagem agradável.

                  
 -       1- Linhas soltas  - criam um fraco senso de unidade.
         2- Linhas se tocando – criam um senso de unidade mais forte.
         3- Linhas convergindo para um ponto ou paralelas- criam um senso 
         de unidade ainda mais forte ( lembrando que o desenho da esquerda tem      mais dinamismo que o segundo, pelo o que já foi explicado em movimento).

Conclusão:   

Unidade baseada em similaridade - efeito mais fraco.




Unidade baseada em conexão - efeito mais forte.

      Utilizando novamente esse turbante podemos ver um forte censo de unidade criado pela pelos mukuts do arranjo principal que convergem e se tocam num ponto central (representado pela flor). Cria-se com isso um grande dinamismo dando a sensação de explosão a partir deste ponto.
                            
7.     
8.        VARIEDADE – uso de diferentes elementos para aumentar o interesse visual do trabalho.

    


                  No exemplo de cima, todos os elementos com o mesmo tamanho parecem “chapados”,  enfadonhos.  Já no exemplo de baixo os elementos com diferentes tamanhos criam uma sensação de profundidade, são mais interessantes.


                No turbante que segue, as flores têm diferentes tamanhos, criando uma sensação de profundidade, tridimensionalidade, o que não ocorreria caso elas fossem todas do mesmo tamanho.


9.       TRANSIÇÕES – É como você move seus olhos, podendo ser de forma brusca ou gradual:




·                     No desenho da esquerda temos uma pausa brusca na transição dos elementos enquanto que no da direita temos uma transição gradual, o que é mais sofisticado. Repare no turbante a seguir, a sutil transição das linhas formadas pelas contas (setas vermelhas) para as flores kadamba ( setas rosas) e por fim para os mukuts ( setas verdes).



Olhando à direita do turbante, temos outro exemplo de transição gradual das contas para as flores e mukuts:




HARMONIA – é um conceito clássico que se relaciona às ideias de beleza, proporção e ordem. As formas se compõe não de maneira aleatória, mas de modo que os contornos e enchimentos sejam bem definidos, tornado-as aprazíveis aos olhos. Utilizando os outros princípios já citados, conseguimos obter harmonia e  podemos buscar inspiração para isso observando a natureza!


Estrutura do Turbante


 Utilizando os elementos e princípios da arte, podemos resumir a estrutura do turbante da seguinte maneira:



Estilos de turbante

     Com a estrutura básica ilustrada no desenho acima, você pode obter diferentes estilos de turbantes como o de tecido, de mukuts, o floral e o clássico (combinação dos outros). Segue abaixo um passo a passo no qual Kurma Caitanya prabhu ensina rapidamente como fazer um simples turbante no estilo clássico.

Uma tira de espuma é colocada em volta da cabeça para dar a
forma de turbante e evitar que os alfinetes espetem o Senhor.





O tecido


Adicionando mukuts e jóias.


O turbante final.


Outros estilos: Turbante com estrutura de tecido.






 Turbante com estrutura floral.







Turbante com estrutura de mukuts.





     Agora é só utilizar essas ferramentas, a sua criatividade e colocar em prática! Para treinar o olhar, você pode  voltar ao início dessa material e começar a observar as fotos dos turbantes, procurando por linhas, contornos, movimento, elementos de ênfase, variedade, rítmo em todas elas. As fotos utilizadas foram tirados do site http://mayapur.com/index.php?q=gallery&g2_itemId=134 onde você poderá obter infinitos exemplos para se inspirar e dar continuidade ao seu estudo! O passo à passo está em :
http://mayapuracademy.wordpress.com/2008/12/23/steps-to-turban-making/


  Vale ressaltar que os princípios da arte podem ser utilizados não somente para turbantes como também ao vestir as deidades, fazer arranjos florais, decorações etc. Então mãos à obra e boa sorte!

Sua serva

Vaisnava Krpa devi dasi





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